quinta-feira, julho 01, 2010

 Síndrome de Peter Pan

[Não é uma doença, não chega a ameaçar a vida, contudo trata-se de um fenômeno psicológico muito conhecido e, na mesma proporção, difícil de explicar]
Por Marilena Borges Bigoto


A síndrome de Peter Pan passou a ser mais conhecida ou evidente nas últimas décadas, provavelmente, evidenciada pelas pressões da vida moderna. É um sintoma masculino, pois o Peter Pan é um homem pela idade e um menino pelas ações. Para ele, viver, ter responsabilidades, lutar pela vida, é perda de tempo. Tenta disfarçar suas tristezas e angústias, com prazer, atividades lúdicas, histórias, piadas e viagens, principalmente para a terra do nunca.
Este homem-menino é um eterno imaturo. Em geral, não percebe isso, portanto, nem reconhece que precisa de ajuda. Geralmente, as pessoas que o amam, pais, irmãos, parceiros, em algum momento se cansam, pois afinal ele nunca cresce.
Essa anomalia social vai se construindo durante o desenvolvimento da criança e começa para valer na adolescência. No início, não se preocupa em ir bem na escola para construir um bom futuro. Ainda nessa fase, manifesta muita ansiedade com relação a fazer coisas prazerosas, uma viagem com a turma de escola vira um grande evento ansiógeno. Isso se alterna a períodos de solidão e conflitos relativos à sexualidade. A ansiedade faz com que busque desesperadamente uma namorada, porém como é imaturo, acaba por afastar as moças. O que aumenta ainda mais suas aflições, que são mascaradas por comportamentos machistas e até cruéis com o feminino, com o intuito de esconder seu verdadeiro medo da rejeição.
Tem muitos problemas com os pais. Com a mãe tem uma ambivalência de sentimentos, ora tem humor agressivo, ora o comportamento muda em função da dependência afetiva. Parte desses conflitos existentes na síndrome de Peter Pan tem a ver com a relação distante e indiferente com o pai, como se o pai jamais pudesse amá-lo e aprová-lo.
Quando jovem-adulto, é narcíseo. Luta só pelo que interessa a ele. Mais tarde, quando realmente é obrigado a ser adulto, manifesta desinteresse por situações padronizadas. Ao se casar, ter filhos e um emprego estável, reclama e angustia-se sentindo a vida entediante e monótona. Quando chega à metade da vida, pode ter depressão, ou muita ansiedade em função da insatisfação, ou rebela-se e busca recuperar o sentido tentando voltar à juventude.
Existem outros comportamentos que sugerem a síndrome de Peter Pan, como reagir de forma desproporcional às situações, esquecer dos outros, raramente pedir desculpas e só tomar iniciativa em ocasiões que sejam do interesse dele.
Enfim, ao reconhecer um rapaz, ou melhor, um menino-homem com esses comportamentos, dê a sugestão de que ele precisa de ajuda e de entendimento.


[Marilena Borges Bigoto* é especialista em Psicologia Clínica e Consultora Organizacional.]

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