domingo, agosto 29, 2010


Cristo era um revolucionário?
[ EDUARDO SOCHA]

Para Terry Eagleton, hoje considerado o crítico literário mais influente da Inglaterra, a resposta é sim e não

Cristo, um líder político? Eagleton analisa os quatro evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e, seguindo as omissões, contradições, escolhas e tendências de suas estruturas narrativas, procura dar conta de uma questão controversa que historicamente excede o campo da teologia.
Na apresentação ao livro, o crítico mostra que a pergunta retórica – “Jesus era apenas um líder espiritual e não um líder político?” – já incorpora um anacronismo pelo qual as interpretações mais costumeiras passam batidas. Afinal, perguntas dessa natureza só se tornam possíveis quando se “projeta para o passado uma distinção moderna entre religião e política que certamente não está nas Escrituras”. Nesse sentido, independente da voltagem espiritual das pregações de Cristo, é no mínimo sensato supor que a severa punição da crucificação não se deu por exclusivas razões de fé. Os romanos não se interessavam por diatribes ideológicas ou religiosas de suas colônias, mas destinavam a crucificação àqueles que representavam uma concreta ameaça à ordem pública.
O texto incisivo e elegante de Eagleton, cuja envergadura teórica rechaça qualquer acusação de diletantismo, não se exime de passagens corrosivas que, em outras épocas, facilitariam enormemente o trabalho dos inquisidores e censores do Index. Quando se fala, por exemplo, da proximidade de Jesus (depois desmentida) e principalmente de Judas com a seita dos zelotes (movimento clandestino anti-imperialista dedicado a expulsar os romanos da Palestina, que Eagleton compara ironicamente à Al-Qaeda), o autor chega a cogitar não sem um certo cinismo: “Talvez Judas tenha vendido Jesus porque esperava que ele fosse um Lênin e ficou amargamente desencantado quando compreendeu que não ia liderar o povo contra o poder colonial romano”.
Eagleton detecta o ímpeto materialista das atitudes cristãs (“O Reino dos Céus revela-se uma questão surpreendentemente materialista”), testemunhadas aliás na própria letra dos Evangelhos. E conclui que Jesus, ao contestar as autoridades judaicas e ao defender um horizonte de justiça e fraternidade até então inexistente (embora não ambicionasse com isso uma transformação radical do poder – “a César o que é de César”), foi a um só tempo mais e menos revolucionário que Lênin e Trotski. Pode-se não concordar com muito do que é dito. Mas o estilo afiado de Eagleton consegue localizar uma dimensão curiosamente incendiária e não tão popular do Cristo dos Evangelhos, confirmando, no final das contas, que uma outra exegese é possível.
Fonte: 
Espaço Acadêmico- Editor Antonio Ozai da Silva

Terry Eagleton

Terence Francis Eagleton (born 22 February 1943, Salford) is a British literary theorist widely regarded as Britain's most influential living literary critic.[1][2] Eagleton currently serves as Distinguished Professor of English Literature at the University of Lancaster, and as a Visiting Professor at the National University of Ireland, Galway.
Formerly Eagleton was Thomas Warton Professor of English Literature at the University of Oxford (1992-2001) and John Edward Taylor Professor of English Literature at the University of Manchester until 2008. In the Fall 2009 semester, Dr Eagleton will return to The University of Notre Dame as a Distinguished Visitor in the Department of English.[3]
He has written more than forty books, including Literary Theory: An Introduction (1983)[4]; The Ideology of the Aesthetic (1990), and The Illusions of Postmodernism (1996).
Professor Eagleton delivered Yale University's 2008 Terry Lectures and gave a Gifford Lecture in March 2010, titled The God Debate.[5]

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